quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Optar pelas nuvens, com os pés assentes na terra

Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’
em 22 de Fevereiro de 2010


Os organismos, entidades e empresas que têm os pés assentes na terra conhecem bem os custos de adquirir e manter infra-estruturas e serviços de TIC (tecnologias da informação e comunicação) com recurso a meios próprios. Para além de equipamento computacional, postos de trabalho, software e serviços, há que ter em atenção que as infra-estruturas de TIC exigem a atenção constante de gestores de sistemas e redes, profissionais especializados que têm a seu cargo a operação, manutenção, monitorização e optimização de todos os sistemas. Funções como a gestão de parques informáticos, gestão de configurações e gestão de segurança informática assumem um papel crítico nas modernas organizações, não podendo ser deixadas ao cuidado de ‘curiosos’ ou amadores, sob pena de se colocar em risco toda a actividade.

O desenvolvimento de tecnologias de rede capazes de funcionarem a elevados débitos (dezenas ou, mesmo, centenas de gigabits por segundo) potenciou que, presentemente, muitos dos serviços de TIC possam ser fornecidos remotamente, o que reduz em muito as necessidades de investimento, de operação e manutenção locais.

Recentemente, o conceito de grid computing – normalmente associado à cooperação de vários servidores interligados entre si, de forma a resolver um problema específico, tipicamente envolvendo cálculo intensivo – foi estendido, daí resultando o conceito de cloud computing. Neste caso, o que se pretende é a utilização de múltiplos recursos computacionais, interligados através da Internet (normalmente representada por uma nuvem, ou cloud) de forma a fornecer serviços aos utilizadores independentemente da sua localização e do dispositivo que estão a utilizar para se ligarem à rede. Os recursos (por exemplo, redes, servidores, espaço de armazenamento, aplicações ou serviços) são partilhados por diversas entidades ou utilizadores, disponibilizados a pedido e geridos com o mínimo de sobrecarga de gestão.

O conceito de cloud computing fornece vários modelos de funcionamento e de utilização de recursos, a saber:
  • Software as a Service (SaaS) – em vez de adquirir e instalar licenças de software para as diversas aplicações nos seus equipamentos, as entidades utilizadoras acedem a essas aplicações através da rede, pagando a sua utilização a um fornecedor de serviço;
  • Platform as a Service (PaaS) – um fornecedor de serviço disponibiliza uma plataforma de software para que as entidades utilizadoras desenvolvam as suas aplicações e as alojem;
  • Infrastructure as a Service (IaaS) – o fornecedor de serviço disponibiliza máquinas virtuais, nas quais as entidades utilizadoras podem instalar o seu próprio software de sistema e software aplicacional.

O paradigma da computação em nuvem é, cada vez mais, aceite e adoptado por organizações modernas, que sabem distinguir entre o que devem fazer elas próprias – porque nisso são especializadas – e o que devem adquirir a outros. É um modelo a ter em conta e a seguir pelas administrações central e local, que teimam em replicar até à exaustão serviços que todos poderiam partilhar, desperdiçando, desta forma, todo um potencial para economias de escala. É caso para dizer que optar pela computação em nuvem é a melhor forma de manter os pés assentes na terra.


Fernando P. L. Boavida Fernandes
Professor Catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
Presidente do Conselho de Administração da Associação Coimbra Região Digital